Por Sandra Küster
Meu
pai tem 65 anos...
Na
sua dura infância, quase não frequentou a escola, só aprendeu a ler e a
escrever. Isto, porém não fez dele um homem de pedra pelo contrário, ele é
etéreo e tudo que sou é graças à ele e toda sua sabedoria, conquistada lendo
por conta própria um universo de livros que eu formada, não sei se um dia
conseguirei ler...
Eu
estava no primeiro ano do "primário" quando um dia ele resolveu
construir uma escrivaninha embaixo de uma grande árvore que havia no quintal
de casa, me disse assim: é para você estudar...
Quantas
tardes eu passei ali naquele agradável recanto de luz e sombra amena. Nas
leituras difíceis eu ia sorvendo minhas primeiras vitórias.
Quanto
amor brotou deste simples gesto, quantos laços e nós indissolúveis se fizeram
nestes momentos em que junto dos livros, aprendíamos também que a vida poderia ser
boa e diferente sim, porque os livros lidos com certeza iam tornando-a mais
feliz, mais leve e mais completa.
Acho
que na verdade ele só queria agradar e tudo que fez por nós toda sua vida, fez
por amor. Mas no fundo quem ganhou mais fui eu. Ganhei cada dia mais paixão e
amor pelos livros e hoje esta paixão se tornou também minha profissão, sou
bibliotecária.
Tenho
boas recordações da minha infância simples e feliz em São Paulo, cresci vendo
meu pai com livros nas mãos e assim, silenciosamente ele foi me ajudando a
traçar meu caminho. Me ensinou que cuidando da vida, mesmo que seja com um gesto
simples, um livro lido, o futuro pode ser muito diferente, muito melhor...
Ele
cuidou de mim e hoje com meu trabalho, posso cuidar de outras crianças também.
A leitura é assim mesmo.. Silenciosa, solitária, mas quanto nos diz, quanto nos
ilumina, quanto nos alimenta.
Obrigada
pai, pelo pão que também nunca faltou para minha alma.