21/10/2011

O pão da alma...

Por Sandra Küster

Meu pai tem 65 anos...

Na sua dura infância, quase não frequentou a escola, só aprendeu a ler e a escrever. Isto, porém não fez dele um homem de pedra pelo contrário, ele é etéreo e tudo que sou é graças à ele e toda sua sabedoria, conquistada lendo por conta própria um universo de livros que eu formada, não sei se um dia conseguirei ler...

Eu estava no primeiro ano do "primário" quando um dia ele resolveu construir uma escrivaninha embaixo de uma grande árvore que havia no quintal de casa, me disse assim: é para você estudar...

Quantas tardes eu passei ali naquele agradável recanto de luz e sombra amena. Nas leituras difíceis eu ia sorvendo minhas primeiras vitórias.

Quanto amor brotou deste simples gesto, quantos laços e nós indissolúveis se fizeram nestes momentos em que junto dos livros, aprendíamos também que a vida poderia ser boa e diferente sim, porque os livros lidos com certeza iam tornando-a mais feliz, mais leve e mais completa.

Acho que na verdade ele só queria agradar e tudo que fez por nós toda sua vida, fez por amor. Mas no fundo quem ganhou mais fui eu. Ganhei cada dia mais paixão e amor pelos livros e hoje esta paixão se tornou também minha profissão, sou bibliotecária.

Tenho boas recordações da minha infância simples e feliz em São Paulo, cresci vendo meu pai com livros nas mãos e assim, silenciosamente ele foi me ajudando a traçar meu caminho. Me ensinou que cuidando da vida, mesmo que seja com um gesto simples, um livro lido, o futuro pode ser muito diferente, muito melhor...

Ele cuidou de mim e hoje com meu trabalho, posso cuidar de outras crianças também. A leitura é assim mesmo.. Silenciosa, solitária, mas quanto nos diz, quanto nos ilumina, quanto nos alimenta.

Obrigada pai, pelo pão que também nunca faltou para minha alma.

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