24/02/2012

Uma paródia para Biblioteca - Michel Teló

Minha amiga também bibliotecária, Vilma Marques me enviou esta paródia, achei divertida! O nome da música é "Vem que eu te empresto" Compartilho com vocês. É um vídeo para divulgar os serviços da biblioteca onde trabalha a criadora da paródia Patrícia Almeida.



23/02/2012

Como nasce um livro?

Fonte: Sapatinhos Vermelhos • por Nikelen Witter



Não foi exatamente como no título que a pergunta me chegou, porém, era mais ou menos isso que ela pretendia.  A questão nasceu junto com o anúncio para a família de que eu publicarei meu primeiro livro de ficção até o final do ano. O próprio acontecimento da pergunta já abre espaço para pensar outras coisas. É meu primeiro livro de ficção, mas não o primeiro livro, nem escrito nem publicado. Escrevi a dissertação e a tese. Apenas a primeira foi publicada, mas ambas são livros. Demandaram tempo, esforço, planejamento. No entanto, este é o ponto interessante, nenhuma delas parece contar da mesma forma que um livro que escrevi sem ter qualquer "obrigação" em escrever. Este sim. Este é de verdade. Ao menos, é como as reações dos outros me parece. Talvez, porque este seja o primeiro que qualquer um possa ler, caso tenha vontade. Os outro dois exigiriam vontade e também um pouco de paciência.

Não se trata de uma crítica à reação das pessoas. Pelo contrário, há um pouco de razão nisso. De fato, há muita diferença na escrita destes três livros. Diferenças de linguagem, de ritmo de texto, de tempo empregado e (por que não?) de prazer na tarefa, de liberdade, de criatividade. Este, que ganhará sua forma impressa até o final deste ano, é minha entrada em um mundo, um mundo que eu já anunciava há algum tempo que queria pertencer: o mundo dos escritores. 

Contudo, não sei se escrever um livro (ou até três) é suficiente para fazer de alguém um escritor. Nem, auto-intitular-se. Talvez, a chancela final venha de quem edita e de quem lê. Acho bom confiar nisso. Se alguém leu o que foi escrito até o final, mesmo que para criticá-lo ao terminar, se pode bater no peito e dizer: sou escritor. Se, porém, o autor espantou seus leitores antes do fim, ainda não é um escritor. 

Afora tudo isso, a explicação daquela primeira pergunta fez-me pensar na imagem que os escritores têm para os que não escrevem, mesmo sendo leitores. Há uma ideia de quase iluminação. E, provavelmente, é por isso que a escrita de um trabalho de pesquisa não ocupe um lugar análogo no imaginário geral. Afinal, um livro de ficção é uma história, então, basta contá-la. Basta tê-la na cabeça, sentar e escrevê-la, do primeiro ao último capítulo, certo? Mais pessoas têm esta ideia do que se possa imaginar. 

Quem assistiu ao filme A Fonte da Vida pode não ter notado, ou se surpreendido, mas imagino que muitos, como eu, perceberam que o caderno da escritora vivida por Rachel Weiz é feito de frases lisas, sem correções, sem riscos, sem rasuras. A não ser que a personagem fosse Mozart, um gênio de quem a música já brotava quase perfeita (ou perfeita), ela não escreveria assim. O caderno de um escritor não é belo, não tem letra desenhada, não é limpinho. Ele é cheio de garranchos escritos às pressas, ou no ônibus, ou enquanto outras pessoas falam, mas você precisa, imediatamente, anotar uma ideia antes que ela fuja para nunca mais. O caderno é amassado de andar nas bolsas, ou nas malas, ou nas mochilas. Sovado de ser relido e muito, mas muito mesmo, riscado. Por vezes, até páginas inteiras. Outras, é preciso tentar ater-se às únicas linhas que foram salvas da revisão num dia de mau humor. 

É claro, cada escritor tem sua receita, alguns, inclusive, seguem receitas (o que, por vezes, pode render bons livros). Há os que escrevem primeiro um capítulo chave da história. Outros escrevem, por primeiro, o último capítulo (mesmo que depois acabem por modificá-lo). Outros seguem a cronologia do primeiro ao último, mas isso não os livra de correções, revisões e apagamentos. Eu fui do primeiro ao último. Mas, não simplifique isso. Em 2008, escrevi 4 capítulos que foram apagados quase na íntegra. Em 2009, apaguei outros dois, quase inteiros. Em 2010 as coisas fluíram:  reescrevi quase tudo. Em 2011, cheguei a média de 1 capítulo por semana em minhas férias, mas fui lenta ao longo do ano. Era época do fim. Quando terminei, foi preciso um capítulo inteiro nascer onde antes não havia; e não sei quantas vezes trabalhei nas últimas páginas. Não houve riscos, pois o texto já estava na fase do computador, mas muitas marcas amarelas pareciam brotar nas passagens em que eu ou meu leitor crítico duvidávamos. Depois, o pente fino dos revisores e ainda virão mais. 

Não é à toa que muitos comparam a escrita de um livro a um parto (escritas de teses e dissertações também). Os motivos são claros. Dói. Dá trabalho. É difícil. Mas há muito orgulho no final. Contudo, é bom lembrar, apesar do parto e do nascimento, textos não são filhos. Haverá críticas e haverá os que não gostarão do que se escreveu. Sendo assim, é bom colocar o texto produzido, tanto quanto possível, num lugar diferente do amor filial. Isso pode salvar a vida e o ego de um escritor.

Quanto à mágica que um livro pode realizar... este é o sonho de todo o escritor ao fechar seu livro e a esperança de todo leitor ao abri-lo

08/02/2012

Dieta literária: devorando os livros certos




Todo mundo conhece aquele desenho da pirâmide alimentar, que começa com fartura de cereais e massas na base, depois empilha frutas, hortaliças, leite, leguminosas até chegar na pontinha, com consumo limitado de carnes, gorduras, açúcares e doces.

A pirâmide de Maslow é outra dessas figuras geométricas muito famosas, que coloca as necessidades fisiológicas e de segurança na base para só depois pensar em relacionamentos, aceitação social; a auto-realização fica lá no topo, quando tudo já foi resolvido. Pesquisando mais um pouco a gente descobre pirâmides políticas, organizacionais, socioeconômicas e até, veja só, egípcias.

Como se vê, pirâmides são muito didáticas para deixar bem claro o que é fundamental e o que é cereja; também são ótimas para mostrar por onde se começa a construir bases bem estruturadas para qualquer coisa. Pois então. Estava aqui ruminando umas alcachofras e resolvi elaborar uma espécie de pirâmide da leitura. Vamos lá então.


Dietrich Schwanitz, em seu “Cultura geral, tudo o que se deve saber” diz que somente a língua nos distingue dos animais e, mais do que a fala, a escrita é a chave para o domínio de uma língua. Falando, a gente pode descrever coisas e pessoas, mas as ideias precisam ser simples porque acompanhar o desenrolar da argumentação exige muita concentração.

Por meio da escrita, é possível libertar a linguagem da situação concreta (fatos) e torná-la independente do contexto (ideias). Quando a gente fala, a emoção predomina sobre a objetividade; quando escreve ou lê, desenvolve muito mais a capacidade de abstração.

Beleza. Quer dizer que ler serve basicamente para desenvolver a capacidade de abstração, o que não é pouco se a gente analisar onde isso nos leva: compreender a dimensão e o contexto da encrenca que é esse mundão, o que implica em entender pelo menos o básico sobre como as coisas funcionam e como a gente chegou até aqui; esse passo é fundamental se quisermos mudar a realidade (ou mesmo deixá-la exatamente como está, o que exige esforço igual ou maior).


Por isso, penso que a base da pirâmide deveria ser composta por livros de filosofia, onde a gente conheceria o que já se pensou a respeito e em que pé está o debate (isso tem o pomposo nome de estado-da-arte). Poderíamos comparar ideias, analisar posições e situar nosso papel no mundo, assim como a nossa missão.

Poderíamos escolher intencionalmente um comportamento diante da vida com um mínimo de coerência. Filosofia tem a ver com perceber nossa localização no tempo, no espaço e nas ideias. Sem isso, a gente fica vagando por aí sem saber aonde vai e porquê. A religião também pode se prestar a isso, mas para evitar entrar numa fila qualquer não tem jeito: há que se ler e se questionar muito.

Na base deveriam estar também livros de história, que complementam bem a filosofia. Por que certas nações vivem em guerra? Por que alguns povos são mais ricos que outros? Por que a terra é separada em países? Por que falamos português e não mandarim? Coisas básicas e fundamentais para não repetir erros (e votar em certos políticos).

Geografia também seria útil e básico para a gente se orientar. Fico assustada quando conversamos, em postos de gasolina, com motoristas de caminhão que não conseguem entender mapas nem fazem a menor idéia de distâncias ou de pontos cardeais. Eles aprendem o caminho com alguém e o repetem igual a ratinhos de laboratório. Triste, se a gente pensar que o mundo para eles poderia ser tão maior e mais interessante…

Por último, nessa base, penso que seria importante ter noções de ciências (matemática, física, biologia) e de onde partem as linhas de raciocínio para que as coisas façam sentido. Como manter um corpo minimamente saudável se a gente nem sabe direito como ele funciona? Como se virar num mundo sem saber fazer contas?

Conheço pessoas com o segundo grau completo que ainda não captaram o conceito de porcentagem. Muito preocupante.

Acredito que alguém com esse conhecimento de base já deveria ter as ferramentas básicas para evoluir no mundo e partir para os próximos estágios (seria o equivalente a forrar o estômago com cereais, para dar “sustança”).
No meio da pirâmide, eu colocaria a literatura e as artes em geral em proporções bem generosas, pois que, afinal, são elas que nos fazem humanos.

É onde estão os sonhos, as ideias, os cenários reais ou fantásticos. Por meio da literatura podemos viajar, conhecer lugares e viver coisas que nos seriam impraticáveis; conseguimos a proeza de participar e observar ao mesmo tempo; somos capazes de amadurecer e aprender com experiências alheias, verdadeiras ou absurdas. A literatura e as artes tornam possível o impossível, fazendo o mundo ficar absolutamente infinito.

Um pouco mais para cima, no próximo nível, em menor quantidade, penso que poderíamos nos concentrar em livros técnicos, que ajudariam a trabalhar melhor, aprendendo com outros. Certamente, qualquer profissional bem alimentado pelos estágios anteriores teria muito mais repertório para assimilar e aplicar esse conhecimento.

Na última etapa, lá na pontinha, depois de tudo bem mastigado e digerido, ficariam as notícias e atualidades, necessárias para que a gente não se isole do mundo, mas que precisam ser consumidas com comedimento. Notícia em excesso e sem contexto embrutece e anestesia.

É claro que isso é apenas o que eu consideraria como ideal, mas, evidentemente não pratico. Às vezes leio muito mais livros técnicos do que seria saudável e meus conhecimentos de história e filosofia são parcos e insuficientes.

Tem dias até que só leio notícias e bobagens. Mais ou menos como uma dieta desequilibrada, onde a salada fica de lado e a gente se entope de batatas fritas e doces. Obesidade literária, alguém já ouviu falar?

Bom, agora, quem sabe, com a ajuda de uma providencial pirâmide, talvez seja possível priorizar e organizar minha dieta literária.

Se você não concorda com a minha, pode fazer ajustes ou construir a sua própria (como seria um nutricionista literário?); pode ajudar a manter a boa forma dos neurônios…

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br