27/05/2011

Livros na roça

Por Galeno Amorim
 
Ela jamais imaginou como um punhado de palavras impressas sobre pedaços de papel poderia mudar pra valer o rumo da vida dela e da família. Que ler é coisa importante e necessária, disso Simone nunca duvidou. Tanto é que se tornou professora e passou a vida tentando convencer alunos a não ter medo dos livros.

Só que na vida real... Bem, o certo é que na dela própria ainda não houvera, até então, nenhum acontecimento grandioso nessa seara das palavras. Nenhum que fosse, por si só, capaz de fazer algum incrédulo enxergar ali algum daqueles milagres que Simone tanto dizia que a só a leitura poderia operar no cotidiano de pessoas comuns como ela.

Isso até o dia em que ela decidiu mudar-se de São Paulo. Em vez da cidade grande, com suas mil e uma oportunidades, ela agora iria viver na roça. Primeiro, ela e o marido, Wilson, tentaram criar umas vacas. Deu em nada.

Em seguida, arriscaram plantar eucaliptos. Logo perceberam que também não era aquilo. Tampouco conseguiram arrumar quem aceitasse comprar a propriedade de um só alqueire, que já se consumia em dívidas.

Dada que era com os livros, a professorinha tentou um último recurso. E saiu em busca, na literatura técnica, de alguma coisa que pudesse salvar a única propriedade da família, que ficava no meio do mato, na zona rural de Santa Rita D´Oeste, interior de São Paulo.

Ela acabou, por fim, encontrando alguma coisa. Sobre... peixes. Mandaram, então, cavar um tanque no lugar. Dentro, despejaram tilápias e alguns pacus. E trataram de ler mais sobre o assunto. E tome mais livros, revistas, jornais...

Aquilo mudaria de forma definitiva a vida dos Vizenzi. Em pouco tempo, eles se tornaram fornecedores de filés de peixe congelados. Abriram mais tanques e enfiaram mais peixes lá dentro. E descobriram que poderiam transformar a Chácara N. S. Aparecida em um circuito de educação ambiental, com palestras e passeios ecológicos. Até isso eles foram encontrar nos livros.

Agora, Simone quer provar aos moradores de Aparecida do Bonito – povoado onde ela vive com o marido e Matheus, o filho de 13 anos do casal – que os livros podem mesmo fazer a diferença na vida de gente como eles. Até abriu uma bibliotequinha rural, que atende as 90 almas vivas do lugar.

Numa hora, ela dá aula de computação e internet. Noutras, empresta livros e fala como a literatura e seus personagens ajudam a modificar a vida de outras pessoas e dos lugares onde vivem.

Decididamente, boas histórias é o que não lhe falta...

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